ESCOLHER O CAMINHO
Publicado na edição 113 de Julho de 2011
- “Tudo é imperfeito, se comparado com o que a gente pensou”.
Fernando Pessoa (1888-1935)
- “Seja qual for o caminho escolhido, mesmo o de palhaço, a pessoa tem que estudar muito”.
Renato Aragão
- “O segredo da felicidade é fazer do seu dever o seu prazer”.
Ulisses Guimarães|(1916-1992)
- “Alcançou muito sucesso aquele que viveu bem, riu com frequência e amou muito”.
Bessie Anderson Stanley
Guardei tanta coisa para um dia falar sobre esse assunto e quando fui convidado pela escola de minha filha a dizer algo sobre a profissão de advogado, na mesa estava literalmente nu, vazio, com nada, sem tudo. O evento do qual participei, é conhecido como Mundo do Trabalho. Na ocasião, profissionais em diversas áreas de atuação são chamados a dar seu testemunho, em auxílio àqueles jovens que se encontram num momento tão difícil pelo qual outrora nós também já passamos. Com efeito, escolher uma profissão, nessa quadra da vida, não é tarefa das mais fáceis. Então, lá fui eu. Minha filha, que quer ser advogada, estava na audiência atenta ao que iria dizer. Além do que ela diariamente vê e nota sobre a profissão do pai, naquele momento, desejava ter palavras inspiradoras para todos quanto estivessem precisando de uma luz, sobre o caminho no qual irão caminhar, inclusive ela. Iniciei dizendo que o primeiro vestibular que fiz fora para o curso de Farmácia, no qual, felizmente, fiquei reprovado. No ano seguinte então, fiz Direito, quando passei para a UFRJ, onde conclui meu bacharelado. Fiz o registro de alguns sinais que, para mim, poderiam, identificar no interessado a confirmação de estar no caminho certo: aqueles que gostam de defender e tomar partido dos colegas; que gostam de jogos de estratégia; que apreciam as artes: teatro, música, cinema, literatura; que gostam de ler; que falam e argumentam com desenvoltura. Esses talvez tenham habilidades portáteis suficientes para caminhar no caminho. A profissão, esclareci, é uma “amante ciumenta” que exige muitas renúncias. Deixei claro que não existem resultados imediatos. No Direito, só se colhe com grande persistência. Essa profissão, que é ciência e arte, privilegia a experiência. Os resultados podem ser muito bons, mas permanecer caminhando, sobretudo, nos altos e baixos da advocacia, não é tão fácil assim. O impulso para esse ofício jamais pode nascer apenas da vontade de ganhar dinheiro e construir uma carreira. Não, isso é apenas conseqüência de todo um processo de aperfeiçoamento. E quem vai nessa direção de caçador de recompensas fáceis, não consegue esticar tanto a corda. A certa altura acaba forçado a reconhecer que perdeu o jeito para o ofício; que algo evaporou de si e abandona a profissão. Algumas coisas nesse mundo têm que trazer encantamento, paixão, vibração, vida. O exercício desse ofício pressupõe abertura para essa beleza. E quem a encontra na rotina dos dias, achou tudo. Além da persistência, existe também o componente sorte, um elemento aleatório importante: estar no lugar certo, naquela hora exata em que o clik das coisas ocorrem. Tudo o mais vem depois, com estudo incessante, muita transpiração, alguma inspiração, foco, integridade, ética e honestidade.